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Quero esclarecer algo crucial: há uma grande diferença entre o esforço necessário para uma vida funcional e o mascaramento que busca apenas a aceitação externa. Esse esforço não é apenas sobre fazer as coisas, é sobre crescer e aprender a viver melhor comigo mesmo e com os outros, aceitando as adaptações necessárias e reconhecendo que, às vezes, o desgaste faz parte do processo de alcançar uma vida plena e autêntica.

O Esforço Como Chave no Tratamento

Para mim, que vivo com o Autismo, TDAH e a Epilepsia, o esforço é fundamental, não apenas desejável. Te explico: Ele é parte crucial do meu processo terapêutico, ajudando a construir habilidades sociais, de comunicação e de autogestão que são vitais para o meu bem-estar. Este esforço vai além do simples cumprimento de tarefas; envolve aprender a gerenciar emoções, praticar paciência e reconhecer quando preciso de ajuda, o que melhora minha capacidade de funcionar no dia a dia e transforma minha vida.

Este processo também me ensina a valorizar cada passo do caminho, aprendendo a ser resiliente e adaptativo. Com cada desafio que enfrento, não só melhoro minhas habilidades práticas, mas também fortaleço minha compreensão pessoal. Apesar de ser extenuante em muitos momentos, é incrivelmente recompensador ver o progresso em direção a uma vida mais autêntica e adaptada às minhas necessidades únicas.

Aqui vale ressaltar um ponto: Fugir do esforço por justificativas diversas como: “Ah! Mas isso é uma imposição de uma sociedade neurotipica”, “As pessoas querem fazer que você seja funcional para produzir mais”, “as pessoas tem que me aceitar do jeito que eu sou e pronto”, é apenas acrescentar mais sofrimento. Além de demonstrar um sinal claro que não compreende que para além dos comprometimentos de uma vida com neurodivergências, a experiência humana é construída em adaptação. Essa adaptação exige esforço e desgaste.

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O Desgaste: Um Efeito Colateral Necessário, Mas Administrável

Sim, o esforço necessário para viver com neurodivergências é, sem dúvida, desgastante. A energia que eu invisto para me ajustar e adaptar às exigências do dia a dia é significativamente maior do que a requerida por alguém que não enfrenta esses desafios. Esse desgaste, contudo, não é um mero obstáculo ou um sinal de fraqueza. Pelo contrário, ele é um indicativo da minha jornada contínua em busca de uma vida mais plena e funcional. É a minha parte na equação dos processos de inclusão que também exige adaptar-me a ambientes e situações que não foram projetados com minhas necessidades em mente, e é a prova de que estou trabalhando ativamente para que minhas diferenças sejam reconhecidas e respeitadas, não ocultadas ou ignoradas.

Aprender a gerenciar esse desgaste é crucial e tornou-se uma parte essencial da minha rotina. Estratégias como estabelecer limites claros, identificar e priorizar atividades que requerem mais energia, e assegurar momentos regulares de descanso são fundamentais para manter o equilíbrio. Além disso, o apoio de terapeutas, familiares e amigos é vital para me ajudar a desenvolver resiliência emocional e física. Cada passo nesse processo de administração não só me ajuda a evitar o esgotamento, como também reforça a minha capacidade de viver de forma autêntica e satisfatória, honrando minhas neurodivergências e não permitindo que elas definam limites estreitos para a minha vida.

Vida Funcional: Aceitação e Adaptação, Não Conformidade

Quando falo de uma vida funcional para pessoas como nós, não estou sugerindo que devemos simplesmente nos conformar às expectativas do mundo ‘normal’. Pelo contrário, estou falando sobre o desenvolvimento de uma profunda aceitação de quem somos — uma aceitação que reconhece nossas dificuldades sem nos definir por elas e que valoriza nossas habilidades únicas como contribuições válidas e necessárias. A partir dessa aceitação, eu trabalho para construir estratégias pessoais para lidar com o mundo, estratégias essas que precisam ser flexíveis e ajustáveis, pois evoluem à medida que eu cresço e mudo. Isso envolve um entendimento íntimo de como minhas características neurodivergentes afetam minha vida diária e como posso empregar meus pontos fortes para superar desafios e maximizar meu potencial.

Este processo de aceitação e adaptação é contínuo e dinâmico. Significa aceitar os impactos e prejuízos que minhas neurodivergências trazem, mas também reconhecer e investir nas habilidades que possuo. É um equilíbrio entre entender as barreiras que enfrento e as capacidades que posso explorar. Ao desenvolver e refinar continuamente formas de lidar, não apenas reajo às condições ao meu redor, mas também proativo em moldar um ambiente em que posso prosperar. Esse tipo de adaptação consciente não é apenas sobre sobrevivência, mas sobre viver de maneira plena e satisfatória, redefinindo o que significa ser funcional em um mundo que muitas vezes nos vê através de uma lente de deficiência ao invés de diferença.

Distinguindo Esforço de Mascaramento em Nossa Jornada

É crucial entender que o verdadeiro esforço busca a autenticidade e o crescimento pessoal. Quando me esforço, estou trabalhando para ser a melhor versão de mim mesmo, desenvolvendo habilidades e estratégias que me permitem navegar pelo mundo de forma autêntica. Esse tipo de esforço, embora desafiador, é construtivo e leva ao crescimento. O mascaramento, por outro lado, é superficial e temporário — uma forma de esconder quem realmente sou para me encaixar em moldes que não me servem. No curto prazo, pode parecer uma solução fácil, mas a longo prazo é devastador, pois nunca permite que eu seja aceito pelo meu verdadeiro eu.

O mascaramento é, de fato, um dos processos mais danosos que alguém com autismo ou TDAH pode adotar. Diferentemente do esforço e do desgaste, que têm potencial para fortalecer e desenvolver resiliência, o mascaramento gera danos significativos e acentua os desafios existentes. Indivíduos que mascaram suas características neurodivergentes frequentemente relatam exaustão e um profundo sentimento de desconexão de sua verdadeira identidade. Isso não só é psicologicamente desgastante, como também está associado a sérios problemas de saúde mental, incluindo um aumento do risco de depressão e ideação suicida. A necessidade constante de se adaptar a normas sociais que não refletem quem realmente somos pode resultar em consequências emocionais graves e duradouras.

Além disso, o mascaramento interfere na seleção atencional, especialmente em crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Estudos mostram que o mascaramento pode agravar a capacidade de processar estímulos visuais, causando uma interferência mais profunda e prolongada quando objetos de mascaramento são apresentados em posições laterais, em comparação com crianças neurotípicas. Esses efeitos negativos sublinham a importância de distinguir entre esforço e mascaramento: enquanto o primeiro nos impulsiona para o crescimento, o segundo nos afasta de nossa verdadeira identidade e prejudica nossa saúde mental.


Este artigo é um convite para você, que também pode estar lutando, olhar para dentro e refletir sobre suas próprias lutas. É uma chamada para valorizar o esforço genuíno e entender que adaptar-se não significa perder-se. É, acima de tudo, um lembrete de que cada um de nós tem o direito de viver de forma plena e autêntica, respeitando nossas neurodivergências e utilizando-as como uma força, não como uma fraqueza. Nesse processo, conte comigo!

Abração do Tio

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