É um assunto espinhoso, mas antes de jogar sua caneca Stanley e sua raquete de Beach Tenis assinada pelo seu influenciador favorito, ouve o tio. Beleza?
No mundo corporativo e empreendedor, a figura do ‘self-made man’ é frequentemente idolatrada. Este conceito, que surgiu durante o século XIX nos Estados Unidos, está enraizado na crença de que qualquer pessoa pode alcançar sucesso significativo por meio de trabalho árduo e determinação, independentemente de suas origens. Embora esta ideia seja inspiradora, é crucial examiná-la sob uma lente mais crítica e equilibrada.
O termo ‘self-made man’ foi popularizado por Henry Clay em 1832 e desde então tem sido um pilar do “sonho americano”. Este conceito se alinha com os valores de autonomia e meritocracia, enfatizando o papel do esforço individual na conquista do sucesso. No entanto, é importante entender como o contexto socioeconômico e as mudanças ao longo dos séculos afetam a relevância e a aplicabilidade desse conceito.
Para aquecer seu coração, vamos entender como isso pode ser positivo
O ‘self-made man’ não é apenas um conto de sucesso; ela pode ser uma fonte de inspiração profunda e um catalisador para o empreendedorismo e a inovação. Aqui estão alguns dos aspectos positivos mais significativos deste conceito:
- Inspiração e Motivação: A trajetória do ‘self-made man’ serve como uma poderosa fonte de inspiração. Ela ressalta que, com determinação e trabalho duro, os indivíduos podem superar obstáculos consideráveis e alcançar seus sonhos. Essas histórias motivam as pessoas a acreditarem em si mesmas e em suas capacidades, encorajando-as a perseguir objetivos que talvez considerassem inatingíveis;
- Valorização da Ética de Trabalho e Determinação: Este conceito coloca (ou deveria ter) uma forte ênfase na ética de trabalho e na perseverança. Ele celebra a resiliência e a capacidade de enfrentar adversidades, destacando que o esforço e a dedicação são componentes essenciais para o sucesso. Em um mundo onde muitas vezes se busca gratificação imediata, a história do ‘self-made man’ lembra a importância de paciência e trabalho contínuo;
- Empoderamento Individual: O conceito de ‘self-made man’ empodera as pessoas ao enfatizar o poder do indivíduo em moldar seu próprio destino. Ele desafia a noção de que o status de nascimento ou as circunstâncias iniciais determinam o sucesso de uma pessoa, promovendo uma visão de que o controle sobre a própria vida está, até certo ponto, nas mãos de cada um;
- Cultura de Inovação e Empreendedorismo: Essas histórias incentivam a inovação e o empreendedorismo, mostrando que ideias e abordagens novas e ousadas podem levar ao sucesso. O ‘self-made man’ muitas vezes é visto como um pioneiro, alguém que não tem medo de arriscar e que busca criar algo novo, influenciando positivamente a cultura empresarial e a sociedade em geral;
Em resumo, apesar de suas limitações, tem aspectos positivos indiscutíveis. Ele inspira, motiva e promove uma série de valores e comportamentos que são fundamentais para o crescimento pessoal e o desenvolvimento profissional. Reconhecer esses aspectos é importante para manter uma perspectiva equilibrada e aproveitar os elementos positivos dessa narrativa.
Agora, as más – realistas – notícias.
Como um bom mensageiro das más notícias e do incomodo, nem tudo são flores empreendedoras em um jardim – ou palco – de sucesso e meritocracia.
Apesar de oferecer uma narrativa inspiradora, ele também enfrenta críticas significativas que destacam suas limitações. Afinal, as histórias, normalmente, são escritas pelos vencedores que romantizam suas falhas e dificuldades e apontam para a necessidade de se superar. Se não for suficiente e você falhar, falta mindet, frequencias vibrando corretamente, vestir a camisa e muito sangue nos olhos. Essas críticas são fundamentais para compreendermos a realidade do sucesso e para promovermos uma cultura empresarial mais inclusiva e realista
- Ignorando Fatores Externos e Privilégios: Uma das críticas é a tendência de ignorar ou minimizar o papel de fatores externos no sucesso de um indivíduo. Isso inclui privilégios inatos, como origem socioeconômica, raça, gênero e acesso a recursos educacionais e financeiros. Ao atribuir o sucesso unicamente ao esforço pessoal, o conceito muitas vezes negligencia como esses privilégios podem pavimentar o caminho para o sucesso;
- Simplificação Excessiva do Sucesso: Ao focar apenas na jornada individual, essa narrativa falha em reconhecer a influência das estruturas sociais e econômicas, como a desigualdade sistêmica e as disparidades de oportunidades, que podem significativamente impactar as chances de uma pessoa ter sucesso.
- Promoção do Individualismo Excessivo: Este conceito muitas vezes promove um individualismo extremo, subestimando a importância da colaboração, do apoio da comunidade e das redes de relacionamento. Ao fazer isso, ele pode desencorajar a solidariedade e a compreensão da interdependência humana, elementos essenciais em qualquer sociedade funcional e justa.
- Culpabilização das Vítimas: Aqui temos o “supra sumo”. A tendência de culpabilizar aqueles que não atingem um certo nível de sucesso. Ao enfatizar que o sucesso é puramente uma questão de esforço pessoal, aqueles que enfrentam dificuldades são frequentemente vistos como responsáveis por sua própria situação, ignorando as muitas barreiras que podem impedir o seu progresso. Incluindo aqui o uso de exemplo de pessoas que enfrentam todos os contextos que citei e que alcançaram o sucesso. Esquecendo que a exceção confirma a regra. Não o contrário.
- Desconsideração das Mudanças Socioeconômicas: Muitas vezes falha em adaptar-se às mudanças socioeconômicas globais. Com a evolução das economias, tecnologias e estruturas sociais, os caminhos para o sucesso se tornam cada vez mais complexos e interconectados, exigindo uma compreensão mais holística do que significa ser bem-sucedido.
Aqui, vou segurar o freio e usar um tom mais conciliador
O conceito de ‘self-made man’, embora inspirador, precisa ser analisado com um olhar crítico e realista. Reconhecendo as complexidades e desafios inerentes à jornada de sucesso, podemos promover uma cultura empresarial mais inclusiva e solidária. Assim, incentivamos não apenas o crescimento individual, mas também o desenvolvimento coletivo e sustentável.
Reconhecer privilégios, não elimina seus méritos. É sobre entender as complexidades da realidade que não é a sua.
Que tal refletir sobre suas próprias jornadas de sucesso. Como podemos equilibrar a valorização do esforço individual com o reconhecimento da importância do apoio coletivo e das circunstâncias individuais?