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Nos últimos tempos, a discussão sobre inteligências artificiais tem girado entre dois extremos. De um lado, aqueles que falam sobre uma revolução transformadora, onde empregos se reinventam, a criatividade humana encontra novos patamares e tudo parece um conto de fadas tecnológico. Mas há um detalhe que eles silenciam: a onda massiva de desempregos que já bate à porta. E as conversas vão além, invadindo setores como música, cinema e publicidade, debatendo limites éticos, regulação e direitos autorais.

Do outro lado, temos os que preveem um apocalipse. Para eles, as IAs não são só uma ferramenta, mas uma ameaça direta à autenticidade humana. Nessa guerra de narrativas, fica fácil esquecer um ponto crucial: enquanto gastamos energia discutindo como as máquinas podem nos substituir, muitos de nós já nos tornamos NPCs (Non-Player Characters) no grande jogo da vida.

Agora, se você não é gamer, deixa eu explicar: NPCs são aqueles personagens secundários nos jogos. Eles estão lá para encher o cenário e cumprir suas funções repetindo as mesmas falas e ações, sem pensar ou escolher. Sabe aquele cara no jogo que só diz “bem-vindo à cidade” 347 vezes? É isso. Ele é previsível, segue um script e não muda. Está aí o problema: quantos de nós vivemos exatamente assim? Rotinas automáticas, sem reflexão, sem escolhas – e ainda queremos reclamar das máquinas.

O Ciclo de Repetição

NPCs nos jogos são previsíveis. Eles seguem scripts, repetem ações e nunca fogem de sua programação. Me diz, qual é a diferença entre eles e você quando repete a mesma rotina todos os dias, aceita tudo passivamente e consome conteúdo como se fosse um download automático? Acorda, trabalha, paga boletos, repete. Vive no “modo automático” e ainda tem a audácia de criticar os algoritmos. A ironia é forte, né?

Reflita sobre isso: quantas vezes você repensou suas escolhas nos últimos meses? Se não consegue responder, é porque talvez esteja funcionando como uma peça a mais no grande sistema. Quem precisa de IA quando a sociedade já nos treina para sermos robôs?

Despertando do Piloto Automático

Não precisa ser uma IA para imitar padrões. Nós já somos especialistas nisso. E a grande diferença entre um NPC e um protagonista está justamente na capacidade de fazer escolhas – algo que, convenhamos, muita gente terceiriza sem pestanejar. Decidir exige esforço, coragem e, principalmente, disposição para errar. Mas sabe o que fazemos? Seguimos o fluxo, nos confortamos no previsível e reclamamos do tédio. Tudo isso enquanto repetimos mantras de produtividade e postamos frases de impacto no Instagram.

Reagir não é o suficiente. É preciso questionar: por que você segue os mesmos passos todo dia? Talvez porque dá menos trabalho. NPCs têm um papel no jogo, mas protagonistas mudam a história. Está na hora de decidir quem você quer ser.

Rompendo o Script

Tá cansado de ser previsível? Então é hora de mudar o jogo. Aqui estão algumas ideias para começar:

1. Reconfigure a rotina: Não precisa ser radical. Inclua pequenas quebras no seu dia. Tente caminhos diferentes, aprenda algo novo ou experimente fazer algo fora do esperado.

2. Desafie a programação invisível: Identifique o que está no “automático”. Por que você consome aquele conteúdo? Por que segue aquela rotina? Questione tudo.

3. Cultive a imprevisibilidade: Ser humano é ser caótico, imprevisível. Não tenha medo de desviar do plano de vez em quando. Experimente algo que te tire da zona de conforto.

4. Crie momentos de desconexão: Não basta romper com o script externo; é preciso reconfigurar o interno. Reserve momentos para pensar, sem distrações.

5. Viva como protagonista: Não é só sobre fazer escolhas, mas tomar posse delas. Sua história não será memorável se você não a escrever com intenção.

Nada disso é simples. Mas também não é impossível. A diferença entre viver e existir está em quanto você escolhe ser parte do jogo ou jogá-lo.

#NoFrigirDosOvos

Você pode continuar reclamando das IAs ou pode parar de agir como uma. A escolha está nas suas mãos. Pensar que as máquinas vão roubar a humanidade enquanto você vive no automático é uma contradição que não dá para ignorar. O controle da sua história não está em algoritmos, está em você. E o melhor: não precisa esperar nenhuma revolução tecnológica para começar.