Há algum tempo atrás eu compartilhei um video sobre as duras lições aprendidas na vida militar, explorando aspectos da disciplina e da persistência. Essas experiências moldaram a maneira como encaro os desafios, mas uma lição em particular reverbera todos os dias em minha vida: o poder e o papel dos limites.
Limites não são apenas barreiras; são mestres que nos ensinam sobre nossas próprias capacidades e sobre como enfrentar o que parece intransponível. Em minha jornada pessoal, enfrentando desafios como o autismo, TDAH e epilepsia, os limites me mostraram que a vida não é sobre transpor barreiras por capricho, mas sim sobre entender onde elas me ajudam a crescer e onde me pedem para ser cauteloso.
Esta compreensão é crucial, pois convivo diariamente com uma sociedade que ecoa a necessidade de ser aceito como sou. No entanto, aqui lanço uma provocação: a aceitação não é um direito absoluto, mas sim um equilíbrio delicado entre ser quem sou e estar adaptado ao mundo ao meu redor. Vivemos em conjunto, compartilhamos espaços e, portanto, responsabilidades.
A inclusão, tanto celebrada quanto mal compreendida, é uma jornada árdua. Não é simplesmente fazer com que os outros me aceitem; é também sobre “abrir mão de partes de mim” para que eu possa conviver harmoniosamente. Essa troca é, muitas vezes, invisível aos olhos de quem observa de fora, mas pesa como uma montanha para quem a carrega todos os dias.
Nos contextos profissionais, discute-se muito sobre inclusão como se fosse um projeto com início, meio e fim rapidamente delimitados. Contrata-se um especialista, desenha-se um plano, implementa-se e pronto. Mas a inclusão é um processo de transformação constante, que exige revisões contínuas e um entendimento profundo de que cada pessoa traz consigo um universo de necessidades e expectativas.
A cada passo dado na inclusão dentro de empresas, enfrento desafios que exigem não apenas mudanças estruturais, mas também mudanças pessoais. E não é apenas adaptar o ambiente; é transformar a cultura de um local, é ensinar e aprender, dia após dia, sobre como podemos conviver melhor.
A inclusão demanda paciência, pois é uma construção de longo prazo, onde cada pequena adaptação é uma vitória. É necessário um compromisso contínuo, não apenas das empresas e dos espaços públicos, mas de cada um de nós. Como indivíduos, precisamos nos perguntar diariamente como estamos contribuindo para tornar nosso entorno mais acolhedor e inclusivo. É um diálogo contínuo, uma série de concessões e compromissos mútuos. Começa quando cada um de nós se compromete a entender e a respeitar as barreiras dos outros, e não apenas as nossas próprias. É um convite para olhar além do próprio horizonte e reconhecer que, juntos, podemos construir um mundo que acolha a todos, não porque é fácil, mas porque é justo.
Para que fique mais claro, é importante entender que incluir não é apenas sobre aceitar o outro; é sobre transformar a percepção de todos nós sobre o que significa ser humano em um mundo compartilhado. É sobre repensar a maneira como vivemos, trabalhamos e nos relacionamos, desafiando os limites que pensamos ser intransponíveis e descobrindo, juntos, novas maneiras de ser.
Esse é o meu desafio diário e é o mesmo que coloco a sua frente agora.