Num mundo onde inovação é sinônimo de “sucesso”, as startups estão na vanguarda. Mas será que essa cultura inclui a todos? Descubra como a neurodiversidade se encaixa no ritmo acelerado das startups e o que podemos fazer para harmonizar inclusão e inovação. Simbora explorar um panorama revelador e descobrir iniciativas práticas para um ambiente de trabalho mais inclusivo.
A cultura é um tema que “passa” pela fala de muitos líderes e de pessoas envolvidas nos ambientes de inovação. Especialmente em startups, é marcada por uma série de valores e práticas que diferem significativamente das estruturas empresariais tradicionais. Um dos principais elementos dessa cultura é a ênfase na inovação, produtividade e economia, os quais são disseminados por toda a organização. A inovação é vista como um pilar fundamental e é incentivada como parte dos valores e hábitos do negócio, promovendo satisfação, produtividade e resultados positivos para a empresa, colaboradores e clientes. Uhulllll!! Ficou animado né? Ou será que não? Vamos trazer mais elementos.
Uma característica distintiva da cultura de startups é a tendência para estruturas menos hierárquicas, onde há uma maior autonomia dos funcionários. Isso se traduz em uma hierarquia mais horizontal que promove a geração de ideias e incentiva a participação ativa dos colaboradores em solucionar desafios e gerar inovações. Esta configuração horizontal é considerada essencial para uma gestão efetiva de startups, contribuindo diretamente para o crescimento rápido e exponencial da empresa.
Em relação à gestão, a área de gestão de pessoas é vista como um dos principais responsáveis pela cultura da inovação. A gestão é orientada para a liberdade criativa, onde colaboradores se sentem menos constrangidos por barreiras de processos e estruturas rígidas, criando um ambiente que favorece a produtividade inovadora.
Essa cultura impacta positivamente a otimização de processos, melhorias e criatividade no ambiente de trabalho, com a expectativa de que os benefícios de uma maior produtividade e capacidade de inovação sejam percebidos tanto externamente pelos clientes quanto internamente pelos funcionários. Em suma, os ambientes de inovação priorizam a flexibilidade, a participação ativa dos colaboradores na inovação e uma gestão que suporta e promove esses valores.
É isso, não é? Ou será que tirei isso de uma apresentação daquele palestrante descolado preferido? Não sei…
A promessa de inovação acelerada e disrupção, frequentemente projeta uma imagem de dinamismo e progresso que acontecem em diversos casos, com experiências super positivas, inegavelmente atraentes. No entanto, a realidade do dia a dia de grande parte, pode ser marcada por instabilidade e disparidade entre o discurso inspirador e as condições práticas de trabalho que podem esconder armadilhas para o bem-estar mental, especialmente para pessoas com neurodiversidade. Pesquisas indicam que 66% dos profissionais em startups se sentem mais cansados do que antes da pandemia, e 61% relatam níveis mais altos de estresse 1. A cultura ‘cool’ desses ambientes pode ser psicologicamente tóxica, com uma tendência a ignorar limites humanos e a saúde mental 2. Além disso, 55% dos trabalhadores em startups afirmam não ter acesso a iniciativas de saúde mental 3.
Os fatores psicossociais, incluindo a interação entre o profissional, o trabalho e o contexto de vida, afetam diretamente a saúde emocional e estão relacionados à saúde mental e física 4. Isso pode ser especialmente desafiador para pessoas com neurodiversidade, que muitas vezes requerem maior previsibilidade e estrutura.
Para reduzir os impactos, visando a geração de ambientes mais saudáveis, deixo algumas estratégias:
- Políticas de Saúde Mental: Para além de oferecer recursos básicos, as startups devem integrar programas robustos de saúde mental, que incluam terapias adaptadas para neurodiversos e suporte contínuo. Estas políticas deveriam ser personalizadas, reconhecendo que diferentes colaboradores podem ter necessidades distintas.
- Feedback e Comunicação Inclusivos: Canais de comunicação devem ser diversificados para incluir não apenas conversas presenciais, mas também escritas e digitais, respeitando as diferentes formas de expressão. Feedback construtivo deve ser uma prática regular, com ênfase em soluções colaborativas e inclusão de perspectivas neurodiversas.
- Acomodações Flexíveis Personalizadas: O conceito de flexibilidade deve ser expandido para incluir a possibilidade de trabalho remoto, ajustes no espaço físico de trabalho e tecnologias assistivas, permitindo que cada colaborador desempenhe suas funções da maneira mais confortável e eficaz possível.
- Educação: Treinamentos sobre neurodiversidade devem ir além da sensibilização e buscar a capacitação dos colaboradores para que se tornem aliados ativos na inclusão. Isso pode incluir simulações e workshops práticos para melhor entender e apoiar as necessidades de colegas neurodiversos.
- Avaliações de Bem-Estar Detalhadas: Avaliações de bem-estar devem ser realizadas regularmente e incluir métricas específicas para a saúde mental, com acompanhamento contínuo e ajustes nas estratégias de suporte conforme necessário. Estas avaliações devem ser acompanhadas de ações imediatas e efetivas quando questões são identificadas.
Agora, um ponto importante que é preciso levar em conta é que essas ações, apesar de estarem direcionadas para neurodiversos, devem ser vivenciadas pela organização como um todo. Políticas e práticas visando a preservação e melhoria da saúde mental é um dos pilares mais importantes que – se o óbvio e humano não for suficiente – reduzem indicadores de turnover, afastamento e possibilitam o desenvolvimento de ambientes mais criativos e, aí sim, inovadores.
Afinal, inovação é sobre pessoas. E a pergunta que fica é: quando as pessoas estão doentes, que tipo de inovação é possível?