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Em um mundo onde o sucesso profissional é muitas vezes visto como um reflexo do valor pessoal, a pressão para superar pode ser avassaladora e o produtivismo – termo que uso com frequência – romantizado nas redes e nos palcos. A Síndrome de Burnout, uma resposta ao estresse crônico no trabalho, emerge como um fantasma que assombra os corredores das corporações brasileiras, especialmente entre os jovens profissionais no início de suas jornadas. Através de uma exploração aprofundada, este artigo busca lançar luz sobre as raízes do Burnout e oferecer insights para restaurar o equilíbrio na vida profissional, promovendo um ambiente de trabalho mais saudável e sustentável.


Imagine uma propaganda

A luz entra pela janela iluminando o rosto do casal. Se espreguiçam e se beijam felizes. Agora, já na cozinha, a mãe prepara o café antes de ir para o trabalho e, ao que parece, levar seus filhos à escola. Estes estão educados e sorridentes na mesa, quando o pai chega, beija o ombro da mulher, beija os filhos e senta-se na mesa. Sorrindo e claramente “besticontentes”, distribuem afetos enquanto o foco da câmera destaca uma faca com uma porção de manteiga passada em um pão quente, sendo depois degustada pela família feliz, tendo ao fundo e por fim, uma voz que recita um slogan clichê após cantarolar o nome da marca.

Agora imagine aquele video de um evento super badalado sobre empreendedorismo, marketing e afins: pessoas sorrindo, vibrando. Tudo em câmera lenta. Uma música pop ou um rock’n roll que precede a entrada triunfal de alguém que provoca em você euforia e aquela vontade de “quero ser esse cara!”. Mais sorriso, mais choros, muitas pessoas e muita câmera lenta. Agora vem um depoimento de superação e super transformação. Vem também a sensação mágica de “eu posso! Basta acreditar”. Vem a promessa, a fórmula e o preço. Agora o convite e, você e sua carteira, abertos a realizar o “Épico” com “trocentas” jargões em inglês que você não entende, mas ainda alimentam a vontade de “ser eu”.

Essas descrições lhe são familiares? Imagino que sim.

Vivemos em uma sociedade que reforça valores e anseios que são retroalimentados nos detalhes. Comovendo e constrangendo cada um, na busca por sucesso e realização padronizados e refletidos na personificação da “família feliz e ideal” das propagandas, somada com a cultura de competição e necessidade de ser mais e melhor ou ao menos ter. O que no fim, confunde-se no ser.

Esse ideal é transformado em “munição” para uma enxurrada de fórmulas, programas e promessas de uma vida melhor com menos esforço, de mais tranquilidade, com muito dinheiro. Tudo fácil! Ou às vezes com uma pequena dose de “realidade” — você precisa se esforçar, mas…. — com uma recompensa fantástica, provavelmente fazendo da praia, seu escritório.

Mas, que isso tem a ver com o “esgotamento” e vida profissional na realidade?

A resposta é tudo.

Tudo isso são imputs. Pequenas-grandes entradas/impulsos para geração de vontades e expectativas que são cada vez mais profundas. Antes apenas uma vontade rasa, agora um poço profundo.

A competição é real em um espaço que parece cada vez mais estreito em um ambiente que é cada vez mais rápido e que exige de nós uma adaptação cada vez mais efetiva.

O esgotamento ou cansaço absoluto é natural em um cenário como esse.

Antes, essa adaptação/inovação anteriormente era uma preocupação de pessoas mais experientes. Agora, a cobrança é cada vez mais embrionada na infância e sobrecarregada na juventude, principalmente no mercado de trabalho.

Workaholics são cada vez mais comuns e romantizados em diversas áreas, principalmente nas áreas criativas.

Contudo, nem tudo são espinhos. Inicialmente — e é justamente nesse processo que se encontra o perigo — apenas confundimos dedicação e sacrifício calculado, com rotinas abusivas que são naturalizadas pelos valores que comentei anteriormente.

Em um artigo anterior — A Complexa Relação Entre Criatividade e Depressão — mencionei o aumento do número de casos de problemas psicológicos como causa de demissões e licenças no mercado de trabalho. Aqui temos uma fatia preocupante desse percentual.

Digo isto por um aspecto simples:

A recompensa momentânea e o prazer do reconhecimento pelo esforço ou a luta por este é uma das características preocupantes dos anteriormente citados Workaholics. Dessa forma, são as vítimas principais do esgotamento.

Algo importante ressaltar é que facilmente, a Síndrome de Burnout é confundida com a depressão e a ansiedade, principalmente por compartilharem de sintomas e da necessidade, em grande maioria dos casos, de psicotrópicos. Dessa forma, temos como principais sintomas:

  • Distúrbios do sono;
  • Dores musculares e de cabeça;
  • Irritabilidade;
  • Alterações de humor;
  • Falhas de memória;
  • Dificuldade de concentração;
  • Falta de apetite;
  • Agressividade;
  • Isolamento;
  • Pessimismo e baixa autoestima.

Dada a semelhança com os sintomas de outros transtornos, é importante que ao verificar a experimentação destes, há de ser necessário um diagnóstico psicológico com um profissional.

Contudo, existem práticas que podem reduzir os sintomas e sanar episódios, sejam eles constantes e/ou duradouros

– Busque intervalos regulares e pausas semanais

Entendo a quantidade de demandas e responsabilidades a serem cumpridas. Contudo, é necessário ter pausas regulares durante o período de trabalho, bem como, intervalos maiores entre os 7 dias de trabalho.

Em artigos anteriores comentei sobre algumas metodologias, uma delas é o Pomodoro, que pode ser utilizado para gerar rotinas de pausas regulares.

Lembre que a sobrecarga tem seu preço e ele não é nada baixo.

– Seu corpo é inteligente. Fique atento aos sinais

Em muitas situações, dores de cabeça e/ou musculares constantes são os primeiros sinais de abuso do seu corpo. Por isso, OUÇA! Fique atento aos pequenos sinais. Quanto mais cedo equilibrar a rotina, menos chances terá de desenvolver diversos transtornos e doenças.

Aquele “remedinho para dormir melhor” pode estar escondendo seus sintomas e gerando uma dependência

Existem pesquisas que alertam sobre o consumo excessivo de psicotrópicos como rivoltril para aliviar a tensão, angústias e trazer melhoria da rotina e do sono. Junto a essa prática, que não está limitada apenas a esse medicamento, o consumo de drogas e bebidas alcoólicas é exponencialmente mais alto em pessoas que vivenciam rotinas abusivas de trabalho e na Síndrome de Burnout.

É importante lembrar que as medicações, sejam elas quaisquer forem, só devem ser utilizadas sob prescrição médica, dado que envolvem rotinas de uso e de desmame. O seu uso abusivo, ameniza os sintomas, sublimando e gerando dependência que, posteriormente diagnosticada, torna o processo de desuso doloroso e muito mais complicado.

O uso de drogas e bebidas alcoólicas como alternativas aos psicotrópicos representam o mesmo risco.

Aqui fica uma ressalva importante:

De forma dura e simples, anestesiar a dor por meio de drogas lícitas ou não, é uma fuga da realidade que não colabora para o enfrentamento e resolução dos problemas. A persistência nessa prática torna, pouco a pouco, mais difíceis as abordagens e tratamentos, com episódios cada vez mais intensos e traumáticos.

– Um desafio: Organize-se

Aqui temos um ponto muito complicado. Nem sempre é possível roteirizar todo nosso dia. Há coisas que nos escapam cotidianamente, principalmente em nosso ambiente de trabalho.

Contudo, a criação de rotinas e padrões, por mínimo que sejam, facilita a compreensão e diminuem o desgaste mental e corporal. Organize seu espaço de trabalho e tome nota das demandas de forma facilitar o cumprimento e resolução de cada uma delas.

– Vamos usar um termo mais técnico: tenha sistemas de suporte

Família, amigos e até mesmo nossos pets são aliados essenciais na batalha contra o esgotamento. Dedique tempo, mesmo que pouco, para se divertir, compartilhar e vivenciar esses alicerces tão importantes para estabilidade de nosso corpo e nossa mente.


Você já sofreu com a síndrome de burnout? O que ajudou você a superá-la? Deixe nos comentários e colabore com a vida de outras pessoas compartilhando experiências.