A idade chega, os desafios crescem – não tem como escapar, ainda mais para quem vive com TDAH e autismo. Este é mais um capítulo da série “Minha Jornada com Foco e Caos”, agora explorando a montanha-russa da segunda semana de tratamento. Silêncios que gritam, emoções à flor da pele e mudanças que transformam tudo ao redor. Um passeio nada entediante, com reflexões, dúvidas e algumas risadas amargas no caminho para encontrar um equilíbrio… ou algo que se pareça com isso. Simbora comigo nessa jornada de foco… e caos (mais caos do que foco, talvez)?
Parte 1: O Consumo que Consome
Na segunda semana, fiz um movimento que parecia impensável tempos atrás: excluí Instagram, TikTok e YouTube do celular. Não, não é um grito de desespero digital ou um manifesto “desplugue-se para ser feliz”. Precisei fazer isso porque meu foco não podia ser desviado por feeds intermináveis e algoritmos que mastigam seu tempo e cospem culpa. Gerencio tudo profissionalmente pelo Mlabs, mas fora isso, o buraco é mais embaixo. O resultado? Menos tempo olhando para uma tela e mais tempo me dedicando a estímulos que realmente importam. Estranhei nos primeiros dois dias, como alguém que larga um vício. Mas a verdade é que foi libertador. E você? Quanto tempo você se perdeu num feed do seu Instagram ou do TikTok e culpou o TDAH ou o autismo?
Essa mudança transformou minha relação com o celular. Agora, quando olho para ele, não há aplicativos devoradores de tempo, mas algumas ferramentas: LinkedIn, e-mail, WhatsApp, Medium. Leio algo, vejo uma notícia, e guardo o celular. Parece fácil, mas só quem viveu o ciclo de abrir e fechar apps como quem respira sabe que não é. Até no computador, o YouTube perdeu seu brilho hipnótico. O efeito dominó foi inesperado: mais produtividade, melhor qualidade de vida, e uma presença mais genuína com minha esposa. Dá para ouvir sem pensar no próximo vídeo, sem deslizar o dedo distraído pelo feed. Um silêncio que não é vazio, mas um espaço para ser preenchido pelo que realmente importa.
Parte 2: Focar nas Emoções sem Se Afogar
Enquanto o consumo digital diminuía, as emoções vinham com força. Quando me permito sentir, é até o fim – não há meio-termo. Cada sentimento se amplifica e, se não encontro uma solução, não há como escapar. Não é só TDAH ou autismo; é quem sou. Nos últimos anos, decidi que não ressignificaria as coisas. Não preciso suavizar ou alterar as dores para torná-las digeríveis. Elas são o que são. O esforço para mudar a perspectiva não me interessa – é desgastante e, para mim, um desperdício. Prefiro lidar com a crueza dos fatos.
Mas algo curioso aconteceu. Com menos estímulos contínuos e mais escolhas funcionais, meu sono melhorou. Não foi a medicação por si só, mas o conjunto de pequenas mudanças. Dormir bem não é algo que eu costumava priorizar, mas agora, com menos interrupções, tudo flui melhor. O tempo antes consumido pelo buraco negro digital se transformou em momentos de descanso e foco. Uma ironia interessante: no silêncio, encontrei meu próprio ruído – e o controle dele.
Parte 3: Quando o Contexto Molda o Tratamento
O tratamento para TDAH e autismo não acontece no vácuo. Não é uma solução mágica isolada; ele depende das mudanças ao redor. O ambiente molda o comportamento – essa é a verdade que frequentemente subestimamos. A independência que achamos que temos é, na verdade, profundamente condicionada pelo contexto. Isso vale para qualquer pessoa em tratamento, seja um dependente químico precisando se afastar das velhas amizades e ambientes que alimentavam o vício, seja alguém em tratamento para TDAH e autismo, que precisa adaptar sua vida, escolhas e estímulos. Nada disso acontece sem impacto, e nem sempre é um impacto confortável.
Quando faço mudanças em minha rotina, como regular o uso de redes sociais ou me dedicar ao processo de emagrecimento (já se foram 7 quilos em 15 dias), as repercussões não se limitam a mim. Minha esposa, que não está nesse mesmo processo, sente as implicações. Às vezes, ela prepara um jantar especial e come sozinha. Em outros momentos, consigo sentar à mesa com ela sem comer – mas não posso ceder à tentação, porque, se o fizer, meu foco se transfere completamente. Meu foco, nesse caso, é aproveitar o que está bom, e qualquer desvio me levará a um caminho difícil de retorno. Como mencionei antes, lidar com polos é desafiador. Encontrar equilíbrio nessa equação é algo que me escapa, em parte pela minha personalidade: ou mergulho com intensidade em algo, ou não faço. O meio-termo e eu nunca nos demos bem.
E você, já pensou em como o ambiente ao seu redor molda o que você sente, decide e vive? Quantas vezes você cedeu ou lutou contra ele? Talvez o excesso de controle que buscamos no foco seja, na verdade, o reflexo do caos ao nosso redor. Modificar o contexto é desgastante, mas, por vezes, é a única maneira de encontrar equilíbrio – ou, pelo menos, algo que se pareça com isso. Qual mudança no seu ambiente você está disposto(a) a enfrentar para moldar seu comportamento e suas emoções? #VemComOTio